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Arena

Retirado do discurso de Martin Scorsese em Tisch. Traduzido por Ceriblogmartin-scorsese-with-one-of-the-guns-used-by-robert-de-niro-on-the-set-of-taxi-driver-photo-steve-shapiro-1976

Theodore Roosevelt disse em 1910, em outra primavera, em outra universidade:

“Não é o crítico que conta. Não é quem aponta o dedo enquanto o homem forte desfalece. Ou quem diz onde o construtor das coisas poderia ter feito um trabalho melhor.

O crédito pertence ao homem que está na Arena. Aquele que tem a face manchada com poeira, suor e sangue. Aquele que luta corajosamente, que erra, que cai uma vez após a outra pois não existe real esforço sem erro e despreparo. O crédito pertence para quem verdadeiramente luta para realizar algo. Para aquele que conhece o grande entusiasmo; a grande devoção. Que gasta a si mesmo por uma causa valiosa. Aquele que conhece, no final, o sabor do triunfo das grandes conquistas. Ou aquele que, se fracassar, pelo menos fracassa ousando grandiosamente.

O lugar desses homens nunca será ao lado daquelas almas frias e tímidas que nunca conheceram a verdadeira vitória ou o sabor da derrota.”

Todo passo é o primeiro passo. Toda pincelada é um teste. Toda cena é uma lição. Todo take é uma escola. E o aprendizado continua.

Impressões do Leste

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 Texto publicado na coluna do mês de agosto do blog inCast (www.incast.com.br)

“Cada filme é um campo de batalhas” é parte de uma das frases mais famosas do cineasta americano Samuel Fuller, reconhecido como um importante expoente no cinema independente americano das décadas de 50 e 60. Essa também era a frase que martelava na minha cabeça naquela madrugada quente de dezembro, enquanto tentava espantar o sono administrando doses cavalares de cafeína e ouvindo a batida das guitarras do Metallica nos fones de ouvido. Era o posfácio de uma noite mal dormida, ou nem isso; três horas de olhos fechados e já tinha que estar em pé, planilhas e claquete na mão, pronto para mais um dia de set. Era o terceiro dia de filmagem de Leste Oeste – longa dirigido heroicamente pelo amigo Rodrigo Grota e que havia sido incubado, remodelado, reescrito e readaptado dezenas de vezes durante três anos, até o primeiro ’Ação’.

Como na maioria dos filmes independentes nosso exército era pequeno, mas eficiente; eu era primeiro Assistente de Direção e repassava todo começo de manhã a ordem das cenas com o soldado Mussato (também AD). Nossa tabela de ‘ataques’ iria definir o ritmo do set. Em quem atirar primeiro? Enquanto isso a equipe de Arte já estava a postos, construindo mundos com baldes de cola e tinta nas paredes antes do sol nascer. O Figurino corria com cabides na mão. O Som batia palmas para verificar o eco. A Fotografia preparava suas lentes. No QG, o General-executivo Guilherme Peraro destrinchava anotações no excel para controlar o orçamento de toda operação. Era o começo de um longo dia de lutas mas nós éramos boinas verdes, e adorávamos o cheiro de napalm – e café com bolachas – pela manhã. 

No caso do Leste Oeste, tivemos a sorte imensa de escalar atores talentosos – Felipe Kannenberg e Simone Illiescu assumiram os papéis principais – e de ter uma equipe unida, que compartilhava do mesmo sonho e que se envolvia verdadeiramente, emocionalmente, em todas as etapas do processo. Pelo bem e pelo mal, este é ‘nosso’ filme, rodado com pouco recurso em uma cidade fora do eixo e com talentos que experimentavam pela primeira vez o sabor da odisséia que é produzir um longa-metragem.

Não estamos sozinhos. Segundo dados da Ancine mais de uma centena de filmes de longa-metragem são produzidos no Brasil por ano, e a imensa maioria deles com orçamento bastante limitado. A estratégia da trincheira se repete: fotógrafos guerrilheiros em busca daquele horizonte alaranjado nas primeiras horas da manhã, diretores correndo contra o deadline tentando traduzir o sentimento do texto em cenas, produtores encontrando locações que já existiam para serem transformadas em sets improvisados. Sim, é preciso ter uma vontade imensa para rodar um filme. É preciso motivar seu exército com discursos inflamados e promessas de dias melhores. “Apesar de tudo, não vamos nos render”. Nós somos Napoleão em Waterloo. Nós somos Leônidas em Termópilas. Recuar, jamais.   

Hoje estamos envolvidos na pós produção, aprendendo que a vida do filme está longe de terminar com o último “corta!”. O terceiro ato da saga do cinema independente é fazer nascer por fórceps a história na tela grande; no mercado brasileiro faltam redes de distribuição para o número de filmes que são realizados. Quantos destes projetos realmente estreiam nos cinemas? Quantos entram em festivais importantes? Poucos. Entre mortos e feridos, entre um Transformers e um Homem-Aranha, são ínfimos os expoentes de baixo orçamento que têm oportunidade de competir; a maioria dos filmes pequenos jaz no esquecimento, natimortos em um HD ou em uma lata de película. E filmes, se não forem vistos, não cumprem sua missão. Um filme ‘na gaveta’ é um filme que não existe. 

Qualquer que seja o final da aventura que foi o Leste Oeste, o sentimento que fica é que batalhar vale a pena. Todo bom guerreiro carrega cicatrizes. Todo bom soldado deixa sua arma limpa e carregada, esperando ansiosamente a próxima oportunidade de lutar. Pois “cada filme é um campo de batalhas”, como declarava Samuel Fuller. “Amor. Ódio. Ação. Violência. Morte. Em uma palavra… emoção”.

Produzido pela Kinopus Audiovisual, o longa Leste Oeste foi gravado na cidade de Londrina nos meses de novembro/dezembro de 2014.  Está atualmente em pós-produção e com lançamento previsto em circuitos de Festivais em 2016. 

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“The writer walks out of his workroom in a daze. He wants a drink. He needs it. It happens to be a fact that nearly every writer of fiction in the world drinks more whisky than is good for him. He does it to give himself faith hope and courage. A person is a fool to become a writer. His only compensation is absolute freedom. He has no master except his own soul and that I am sure is why he does it.” 

Roald Dahl

Notes on Directing

Trecho retirado do livro "Notes on Directing", de Frank Hauser. 
Traduzido por Ceriblog.
Notes on Directing

– Você atua na maior parte do dia.

Uma nota geral e muito importante. 

Como diretor, você está ali para explicar coisas para as pessoas e para lhes dizer o que fazer (mesmo que isso signifique dizer para elas fazerem o que quiserem). Seja claro. Seja breve. Tome cuidado com o primeiro grande vício do diretor – enrolar, falar sobre a mesma coisa por repetidas e repetidas vezes, fazer piadas desnecessárias, perder tempo. 

Se proteja também contra o segundo grande vício do diretor, a mania idiota de completar frases com “Você sabe…”, “Algo assim…” “Tipo isso…”, “Err, umm…”. Essas frases são ruins até em conversas cotidianas; vindo de alguém que vai te dar instruções sobre o que fazer em uma média de três horas por dia, pode ser uma justificativa legítima para homicídio.

– Não é sobre você.

Sim, existe um componente de recompensa de ego envolvido intrinsecamente na direção; não é preciso reforçar de modo algum. Ao invés disso, sirva a peça servindo os outros, particularmente o roteiro, os atores, e a audiência. Pergunte para você mesmo: O que eu preciso doar para esta peça? O que eu tenho que acertar para ter o direito de tomar o tempo e o dinheiro deste público? O que eu estou oferecendo para a audiência que justifique o investimento deles?

– O melhor elogio para qualquer diretor: “Você parecia saber exatamente o que queria desde o início.”

Atores e equipe irão te seguir mesmo se discordarem da maneira como você dirige. Ele não irão te seguir se você tiver medo de liderar. Uma presença transparente, confiante e forte é algo importante para todos. Seja informal e educado. Seja aberto ao diálogo. Seja eficiente.

– Ensaios precisam de disciplina.

Não é sua função ser amigo de todos em todas as horas. Critique os atrasos (um ator precisa avisar de qualquer lugar humanamente possível quando ele for se atrasar), critique a conversa excessiva enquanto outros trabalham ou atitudes inapropriadas perto dos atores…

– Por favor, POR FAVOR, seja decisivo.

Como diretor você possui três armas: “Sim”, “Não”, e “Eu não sei”. Use-as. Não enrole. Você sempre pode mudar de ideia mais tarde. Ninguém se importa com isto. O que todos se incomodam é com aquela indecisão agonizante de dois minutos quando o ator perguntou simplesmente “E agora? Posso levantar?”.

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